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Cemitério cheio faz cremação crescer em SP

Cemitério cheio faz cremação crescer em SP
Falta de espaço encarece jazigos na cidade; Vila Alpina vai ganhar 2 fornos

Adriana Carranca

\"Uma prova de amor à família\", diz o classificado. \"Paraíso da flora e fauna. Segurança. Lanchonete 24 horas. Amplo estacionamento\", diz outro. \"Área nobre. Vista linda\", garante um terceiro. O próximo promete \"paz e fácil acesso\". Fácil acesso? Vista? Parecem anúncios de casas, mas tratam da venda de túmulos. Engolidos pela mancha urbana, os cemitérios se tornaram áreas disputadas e caríssimas, mais um problema do avanço da metrópole, que já não tem onde enterrar seus mortos. Com isso, os crematórios ganham espaço e, como mostra a história, o urbanismo mais uma vez muda a relação do homem com a morte.

O serviço funerário de São Paulo fará licitação para dois novos fornos no Crematório de Vila Alpina, na zona leste, o primeiro do País. A demanda cresceu 10% em 2009, com 6.150 cremações - quase uma por hora. Ainda assim, são só 8% dos 80 mil mortos na capital por ano. Desses, 31% são enterrados em um dos 22 cemitérios públicos, mas em mais da metade não há vagas; 16% recorrem aos particulares, onde também falta lugar, e 7% vão para outra cidade.

Com início previsto para setembro, as obras vão dobrar a capacidade do crematório. Outra solução, paliativa, tem sido intensificar a fiscalização dos lotes. Abandonados, podem ser recuperados pela Prefeitura. No longo prazo, porém, com cemitérios espremidos entre prédios, sem área para expansão, e terrenos cada vez mais caros, os crematórios têm sido a solução, até para investidores particulares.

\"A maioria das 55 mil vagas que tenho para enterro estão compradas. Em 1972, quando abri, Guarulhos tinha 200 mil habitantes. Hoje, tem 1,3 milhão. A cidade envolveu o cemitério\", diz o dono do Parque Jardim das Primaveras, Jayme Adissi. Em 2005, ele abriu no terreno o Crematório Primavera. O número de cremações dobrou, desde janeiro de 2008, enquanto houve menos sepultamentos - o jazigo mais barato, com três gavetas, custa R$ 4,5 mil, e a cremação, R$ 2.150, ou menos da metade. Isso em Guarulhos.

Na capital, chega a R$ 25 mil, segundo site que, na quinta-feira, anunciava \"jazigo virgem\", no Cemitério do Morumbi, zona sul. \"Bem de família. Tratar com proprietário\", completava. O metro quadrado do jazigo, por R$ 3.800, é mais caro do que de um apartamento de luxo no vizinho Portal do Morumbi, por R$ 3.174 o m². O túmulo mais em conta fica no cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, a R$ 900 o m².

Assim como os imóveis, quanto mais nobre a localização do túmulo, mais caro o sepultamento. Ser enterrado perto de Ayrton Senna, no Cemitério Morumbi, encarece a sepultura em 35%. Mas há promoções do tipo \"troco por carro jazigo para seis no Cemitério Jardim Vale da Paz\", em Diadema. Sem área para expandir, o Grupo Memorial, dono do empreendimento, lançou um crematório, em Embu.

BANALIZAÇÃO DA MORTE

\"Hoje em dia, se quiser ficar rico, compre um jazigo\", ironiza o sociólogo José de Souza Martins, que por gosto pesquisa a história dos cemitérios. Ele vê a expansão dos crematórios, onde a cerimônia pode durar apenas 15 minutos, como uma banalização da morte. \"Há um certo conteúdo administrativo e burocrático no prato da morte\", diz. \"O homem era marcado pela ideia do progresso e imortalidade, já disse Max Weber. Hoje, a morte não é vista como passagem, mas fim.\"

O perigo, segundo o psiquiatra e psicoterapeuta Sergio Perazzo, autor de Descansem em paz os nossos mortos dentro de mim (esgotado), é que já não se lida bem com essa finitude.

Em outros tempos, esperava-se a derradeira hora no próprio leito, com a família, até o sepultamento no quintal de casa. Quando já não comportavam os antepassados, eles passaram a ser sepultados nas basílicas, ao lado de santos e mártires cristãos. A já aglomerada Paris do século 18 proibiu isso, por causa do risco de contaminação da população urbana. Cemitérios migraram para longe das cidades, mas com o rápido processo de urbanização, foram engolidos. \"Os crematórios surgem, então, como alternativa da época atual, em que tudo é muito corrido. O familiar doente, internado em uma UTI passou a ser um estorvo. Os enterros são caros, os cemitérios de difícil acesso no trânsito, velórios dão trabalho. Então, procura-se apressar o ritual da morte\", diz. \"No fundo, isso é apenas mais um sintoma do declínio da qualidade de vida na cidade, que hoje atinge até o luto\".

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