Nascido em Belém, no Pará, o engenheiro civil da FAB (Força Aérea Brasileira) Luiz Felippe Dias de Andrade Monteiro, 83, não imaginava que quando morresse viraria motivo de briga judicial entre suas três filhas.

Após sofrer o segundo AVC (Acidente Vascular Cerebral) no início do ano, o militar da FAB não resistiu e morreu. O inusitado é que ele teve o corpo congelado em uma funerária carioca, a pedido da filha mais nova em desacordo com as irmãs.

Lígia Monteiro, 32, filha do segundo casamento do engenheiro, decidiu tornar o pai - ainda vivo - membro do \"Cryonics Institute\", em Michigan, nos EUA, ao credenciá-lo por US$ 1.200 na empresa especializada em criogenia (preservação do corpo por congelamento para possível futura ressurreição).

Em entrevista à Folha, a caçula disse que só quer realizar o sonho do pai - manifestado antes de sua morte.

Nos Estados Unidos, o corpo do engenheiro civil será mantido em recipiente de nitrogênio líquido com substâncias de preservação a -196ºC para evitar dano aos tecidos. Ao menos 111 corpos de estrangeiros permanecem no local.

Como não deixou por escrito a decisão, o caso foi parar nos tribunais. Por isso, o corpo do militar permanece numa funerária no Rio - onde a policial tem gastos diários de quase R$ 900, cerca de R$ 27 mil por mês.
Por orientação do instituto americano, técnicos de embalsamento mantêm desde o dia 22 de fevereiro o corpo dele envolto em um lençol num caixão de zinco, resfriado com 20 kg de gelo-seco, substituídos diariamente.

\"Ele não queria morrer. Sempre se cuidou. Essa é uma possibilidade que um dia pode dar certo\", disse a filha. Morador de Copacabana, zona sul carioca, o idoso sempre morou com a filha mais nova e, ao sofrer o primeiro AVC, achou melhor entregá-la uma procuração.
Na última quarta (13/06), a Justiça do Rio liberou o envio do corpo aos EUA. No entanto, a defesa das filhas do primeiro casamento de Monteiro afirmou à reportagem que irá recorrer da decisão nesta semana.

As duas irmãs são contra o congelamento do corpo do pai e dizem que o desejo dele era ser enterrado no jazigo da família, na cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul.

\"A gente ficou muito surpresa com a atitude da nossa irmã. Ela não comunicou a gente e já ia mandar o corpo dele para fora do país. Isso não é o que ele desejava\", disse a filha mais velha Carmen Monteiro Thois, 51.

Texto - fonte: Jornal Folha de São Paulo
Foto: Cryostats. Cryonics Institute, Michigan,USA em 2010.